Springsteen disse melhor: “Baby, nós nascemos para correr”. E, de fato, somos feitos para percorrer boas distâncias. Diferente de nossos ancestrais, que provavelmente corriam atrás de uma gazela para o almoço em vez de completar maratonas, os humanos modernos estão ultrapassando limites de resistência como nunca antes. De ultramaratonas em desertos escaldantes a trilhas geladas em montanhas, corredores conquistam distâncias que teriam feito nossos antepassados pré-históricos desmaiar de exaustão (ou de rir).
Mas há um detalhe: mesmo o atleta mais bem treinado eventualmente encontra um limite. É aí que entra um artigo recente publicado na Sports Medicine, que revisa a ciência por trás do que nos impede de continuar em feitos de ultra-resistência. Estamos falando de fatores como oxigênio, superaquecimento, hidratação e, claro, o sempre presente inimigo: a fadiga.
Aqui, vamos resumir os pontos principais do artigo e explorar a ciência fascinante por trás do que realmente nos limita quando enfrentamos distâncias extremas.
Por que a ultramaratona não é natural (mas ainda podemos nos adaptar)
O principal insight do artigo? A ultramaratona moderna, com suas distâncias extenuantes e exigências de treino, é um verdadeiro testamento da resiliência humana e do desejo de explorar os limites do que podemos alcançar.
Comparados a outras criaturas, somos muito bons em corrida de resistência. Nossos corpos foram construídos para isso: a sudorese eficiente nos mantém frescos (termorregulação), o bipedalismo economiza energia e a alta porcentagem de gordura corporal funciona como um tanque de combustível natural.
Mas há um ponto: a evolução não nos preparou exatamente para percorrer centenas de quilômetros de uma vez. Antigamente, nossos antepassados não treinavam para ultramaratonas. Com o desenvolvimento de ferramentas para caça e coleta, perseguir presas por longos períodos tornou-se menos essencial.
Então, por que fazemos isso hoje? As ultramaratonas são mais comparáveis a explorações modernas, como escalar os picos mais altos. Agora temos alimento garantido, tempo e recursos para testar nossos limites. E, com avanços em treinamento e nutrição, nossos corpos se adaptaram para lidar com essas distâncias extremas — embora essa adaptação vá muito além do que a seleção natural havia previsto.

O segredo da ultramaratona: adaptação
Então, se a ultramaratona não é o ápice de nossas habilidades naturais, o que é? É aqui que a coisa fica interessante. O estudo destaca a chamada “plasticidade fenotípica”, que basicamente significa que nossos corpos são extremamente adaptáveis. Aquela luta constante para manter a massa muscular, os glóbulos vermelhos e a rede de capilares que alimenta nossas mitocôndrias? É tudo uma questão de alocação de recursos. Como nossos corpos são programados para eficiência (leia-se: conservar energia), eles naturalmente reduzem essas adaptações quando não estamos exigindo nada deles.
Mas essa mesma plasticidade nos permite responder aos volumes de treino insanos da ultramaratona. Ao nos submetermos a essas demandas extremas, muito além de qualquer experiência de nossos antepassados, podemos, na verdade, melhorar o desempenho além do que a evolução havia previsto. Nossos corpos se tornam mais eficientes no processamento de energia, no aumento da resistência e no enfrentamento do desgaste inevitável.
Isso não diminui os feitos impressionantes dos ultramaratonistas. Apenas os recontextualiza. Não estamos replicando habilidades ancestrais; estamos ultrapassando os limites do que nossos corpos podem alcançar por pura adaptação. A ultramaratona pode não ser natural, mas nossa incrível capacidade de adaptação a torna possível — e isso, por si só, já é uma história notável.
Os fatores limitantes
Então, estabelecemos que, embora nossos corpos sejam extremamente adaptáveis, ainda existem limites para o que podemos suportar. Esses limites são o que tornam a ultramaratona um desafio tão fascinante. Vamos analisar mais de perto o que realmente nos impede quando levamos nosso corpo ao extremo.
Oxigênio
Correr muitas vezes se resume a uma equação simples: seu corpo consegue fornecer oxigênio suficiente aos músculos para mantê-lo no ritmo desejado? Quando o custo energético da corrida excede o oxigênio que seu corpo consegue entregar, você bate em um muro. Esse ponto crítico é conhecido como “velocidade crítica”, que corresponde a cerca de 90% do VO2máx. Embora possa parecer que atingir esse ponto só acontece em corridas rápidas, o fornecimento de oxigênio também é um fator chave nas corridas de resistência.
Vamos detalhar. Em corridas curtas e rápidas, como uma 5k, o custo energético é maior que o fornecimento de oxigênio. Por isso, não conseguimos manter velocidades altas por muito tempo. Maratonas, que geralmente são realizadas entre 70% e 85% do VO2máx, são corridas próximas à velocidade crítica, então a respiração continua sendo um fator importante.
Ultramaratonas, por outro lado, são muito mais lentas. Normalmente, você corre entre 40% e 70% do VO2máx, então, em teoria, para resolver o problema do oxigênio, bastaria respirar um pouco mais. Mas não é bem assim. Mesmo em um ritmo mais lento, o corpo ainda está no limite. Fatores como terreno, esgotamento de energia e o desgaste geral da prova vão diminuindo gradualmente a capacidade do corpo de fornecer oxigênio de forma eficiente, tornando-o um fator limitante mesmo em intensidades mais baixas.
Portanto, embora o oxigênio possa não ser o protagonista nas ultramaratonas, ele é um coadjuvante que pode impactar significativamente o desempenho. À medida que a prova avança, a capacidade do corpo de levar oxigênio aos músculos em trabalho é cada vez mais desafiada, podendo, no fim das contas, determinar seu sucesso.
So, while oxygen might not be the headline act in ultramarathons, it's a supporting player that can significantly impact your performance.
Superaquecimento
Você pode pensar que o superaquecimento não seria um grande problema em ultramaratonas comparado a corridas mais curtas, mas ele é um vilão sorrateiro. Eis o porquê: o calor que seu corpo produz está diretamente ligado à intensidade do exercício. Por isso, correr uma 10K provavelmente vai “te esquentar” mais rápido do que enfrentar uma prova de 100 milhas – assumindo que todo o resto seja igual.
Claro, “todo o resto” raramente permanece igual. As ultras muitas vezes acontecem em condições extremas, onde até cochilar pode levar a uma insolação. E com provas que duram horas, você passa um tempão sob o sol. É aí que entra a aclimatação ao calor. Estudos sugerem que passar pelo menos cinco dias treinando em condições quentes ajuda o corpo a se adaptar. Pense nisso como uma pré-temporada para o seu “forno interno”.
Mas o maior risco de superaquecimento, segundo os especialistas, é a desidratação. Os limites termorregulatórios da ultrarresistência em condições quentes ou frias estão provavelmente ligados à capacidade de manter a sudorese e a estabilidade cardiovascular por meio de ingestão adequada de líquidos, garantindo que a intensidade do exercício seja sustentada. Quando você está desidratado, o corpo não consegue suar ou circular o sangue corretamente — e esses são os principais mecanismos para se manter fresco. É um equilíbrio delicado — a hidratação é outro assunto quente nas ultramaratonas.
Ultra-endurance runner Ann Trason famously described these ultrarunning events as "an eating and drinking competition."
Nutrição
A ultramaratonista Ann Trason descreveu essas provas de resistência como “uma competição de comer e beber”. Essa afirmação revela uma verdade fundamental: a ingestão de energia e a manutenção de fluidos podem ser os limites máximos da resistência humana. Embora tenhamos evoluído para percorrer distâncias impressionantes, nossa capacidade de consumir combustível suficiente durante esforços prolongados é outro desafio totalmente diferente.
O problema está na prioridade do corpo. Durante o exercício, o sangue é desviado do sistema digestivo para os músculos em atividade. Isso é essencial para o desempenho, mas cria um grande obstáculo na hora de repor energia. Nossos corpos são programados para suspender a digestão durante atividades físicas intensas, um mecanismo útil em esforços curtos. No contexto de uma ultramaratona, porém, isso se torna uma limitação significativa.
Os atletas precisam encontrar maneiras de manter a ingestão de combustível apesar desse desafio fisiológico. A situação se complica ainda mais porque o sistema digestivo fica comprometido nessas condições. O fluxo sanguíneo reduzido pode aumentar a permeabilidade intestinal, permitindo que toxinas entrem na corrente sanguínea. Acredita-se que esse processo contribua para náuseas e desconfortos gastrointestinais frequentemente enfrentados por ultramaratonistas.
Embora não exista uma solução mágica para esse problema complexo, planejamento cuidadoso da alimentação, experimentação com diferentes opções de alimentos e bebidas, e uma compreensão profunda das respostas fisiológicas do corpo são essenciais para otimizar o desempenho em eventos extremos como as ultramaratonas.
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Fadiga (real e percebida)
Bater no “muro” durante uma ultramaratona não se resume apenas a pernas doloridas – é uma batalha entre dois tipos de fadiga.
O primeiro é a fadiga de desempenho, aquela que os cientistas conseguem medir. Por exemplo, correr por 20 horas pode reduzir a força das pernas em 35 a 40%. Mas aqui está o surpreendente: você não precisa de potência máxima para continuar em uma ultra. Mesmo enfraquecidas, suas pernas ainda conseguem seguir adiante.
O outro inimigo é a fadiga percebida, a sensação de esforço. Essa é influenciada pela fadiga de desempenho (músculos mais fracos, esforço maior), mas também envolve outros fatores: sono insuficiente, músculos gritando, sede, fome, superaquecimento… Todos contribuem para a percepção de esforço e, no fim, determinam se você continua, diminui o ritmo ou desiste. Em corridas mais curtas, essas decisões também importam, mas em ultras, os fatores não musculares acabam comandando.
Então, qual é a chave para vencer a fadiga em ultramaratonas? O artigo sugere que não se trata de ficar super forte, mas de gerenciar o declínio inevitável que ocorre durante a prova. Esqueça testes sofisticados de laboratório – depois de 12 horas na trilha, tudo se resume a encontrar maneiras de seguir em frente, mesmo com o corpo enfraquecendo. E é exatamente nisso que recordistas de ultramaratona, como Courtney Dauwalter, se destacam: gerenciar a complexa e bela bagunça da fadiga extrema.
Qual é a lição?
Como vimos, as ultramaratonas são uma exploração fascinante dos limites do corpo humano. Discutimos os desafios da falta de oxigênio, do superaquecimento e da alimentação insuficiente, fatores que conspiram para nos desacelerar. E esses problemas não afetam apenas atletas de elite; todo corredor enfrenta essas barreiras, ainda que em menor grau.
Nosso corpo é uma máquina extraordinária, capaz de adaptações incríveis. Mas, mesmo com toda nossa capacidade fisiológica, existe um limite para o quanto podemos nos exigir. As ultramaratonas estão empurrando esse limite como nunca antes. É um verdadeiro testemunho da resiliência humana e da nossa curiosidade insaciável em explorar o que é possível.
E mesmo que você seja um ultramaratonista experiente ou apenas um corredor de fim de semana, compreender essas limitações é extremamente valioso. Ajuda a focar nas áreas em que podemos melhorar mais – seja ajustando a estratégia de nutrição, aprendendo a lidar com a fadiga ou simplesmente apreciando a incrível máquina que é o nosso corpo.
Afinal, mesmo que não estejamos todos destinados a completar corridas de 160 km, todos podemos ultrapassar nossos próprios limites, correndo um pouco mais longe, um pouco mais rápido e um pouco mais forte.