Em Helsinque, na Finlândia, bem em frente ao Estádio Olímpico, está a estátua de Paavo Nurmi — o lendário atleta finlandês que conquistou inúmeras medalhas olímpicas e quebrou recordes mundiais nas provas de média e longa distância, tornando-se um dos primeiros grandes ídolos do esporte nos anos 1920.
Na cidade natal de Nurmi, Turku, uma réplica idêntica da estátua também se ergue com orgulho. A distância entre as duas é de cerca de 160 quilômetros — justamente a quilometragem mais comum nas provas de ultramaratona. Há anos, corredores finlandeses desafiam a si mesmos a percorrer esse trajeto entre as duas cidades e suas estátuas.
Mais de três décadas atrás, um jovem corredor e entusiasta de orientação chamado Mikael Heerman se deparou com uma reportagem que contava a história de um atleta que havia completado os 160 quilômetros entre as estátuas de Paavo Nurmi. A distância parecia gigantesca, mas o desafio o cativou imediatamente. “Um dia, eu também vou correr tudo isso”, prometeu a si mesmo.
E ele cumpriu a promessa. Antes de completar 20 anos, Mikael já havia cruzado a linha de chegada de sua primeira maratona — um feito que só aumentou sua paixão por testar os limites da resistência humana.
Mas, como acontece com muitos de nós, as demandas da vida acabaram interferindo em seus planos. Os estudos e, mais tarde, o trabalho exigente na Nokia o fizeram deixar a corrida de lado por um tempo.
Os anos se passaram com pouca atividade física, até que, ao completar 30 anos, Mikael decidiu calçar novamente os tênis e voltar a treinar. “Eu estava em péssima forma”, ele admite, reconhecendo que era hora de se mexer novamente.
A cada passo, Mikael iniciou uma jornada para reencontrar sua identidade como corredor. Desde aquele momento de virada, ele nunca mais deixou de se desafiar, aumentando gradualmente a duração e a intensidade de seus treinos. Sua dedicação incansável o transformou em um dos ultramaratonistas mais respeitados da Finlândia.
Ao longo dessa trajetória, Mikael enfrentou alguns dos desafios mais duros que o mundo das corridas de resistência pode oferecer. Ele quebrou recordes em provas de ultradistância e conquistou vagas em competições lendárias, como a Barkley Marathons — que tentou completar em 2017 e 2019.
Hoje, aos 55 anos, depois de incontáveis horas percorrendo estradas e trilhas, Mikael Heerman continua correndo distâncias insanas, mesmo com as inevitáveis reclamações das pernas já cansadas. Seja por florestas densas, montanhas íngremes ou planícies intermináveis, a ultramaratona segue sendo parte essencial de quem ele é.

O fascínio das ultramaratonas
Como a maioria dos corredores não profissionais, Mikael começou perseguindo o sonho de completar uma maratona em menos de três horas — até o dia em que decidiu trocar a velocidade pela resistência. “Tentei muitas vezes, mas nunca consegui quebrar a barreira das três horas”, conta ele. Por acaso, durante um treino, Mikael se deparou com uma prova de ultramaratona em uma floresta no norte de Helsinque. Naquele dia, enquanto via os corredores enfrentando pedras, raízes, subidas e descidas por 100 quilômetros, algo dentro dele se acendeu. Sem hesitar, ele prometeu a si mesmo que correria sua primeira ultramaratona dentro de um ano.
E isso não é incomum. Para muitos, as ultramaratonas parecem o passo natural na evolução como corredor. Quando a velocidade começa a diminuir, correr distâncias cada vez maiores se torna uma progressão quase inevitável. “Em determinado momento, comecei a me perguntar até onde eu poderia ir. Quanto tempo eu conseguiria correr. Acho que esse é um motivo bem comum para começar nas ultras”, reflete Mikael.
Não demorou muito para que ele participasse de sua primeira prova de 24 horas, na qual percorreu impressionantes 204 quilômetros. Movido por uma força de vontade inabalável, Mikael não parou por aí.
Seu melhor desempenho veio na corrida de 48 horas de Surgères, em 2010. Essa competição exclusiva reunia apenas doze dos melhores ultramaratonistas do mundo, na costa oeste da França, próxima à região vinícola de Bordeaux. Nessa prova, Mikael percorreu 382 quilômetros, estabelecendo um novo recorde nórdico e conquistando o terceiro lugar geral.
A força interior
Mais do que uma disputa entre atletas, as provas de ultrarresistência representam uma jornada de autodescoberta e superação dos próprios limites. Para encarar corridas que podem durar dias, é preciso desenvolver não apenas uma resistência física extraordinária, mas também uma força mental fora do comum. Quando o ritmo deixa de ser o foco, lutar contra a sensação de fadiga torna-se ainda mais importante do que resistir ao cansaço físico. Não se trata apenas de quanto tempo o corpo aguenta correr, mas de quanto tempo a mente acredita que é possível continuar.
Para correr em ritmo de ultramaratona, não é necessário usar toda a força das pernas — elas ainda conseguem continuar mesmo operando a 60% da capacidade máxima. O que se torna essencial é a força mental, a capacidade de enfrentar o cansaço percebido e superar a sensação subjetiva de exaustão que faz o cérebro querer desacelerar ou desistir.
Um dos momentos mais difíceis de Mikael em uma ultramaratona aconteceu no Japão. Em 2009, durante a corrida Sakura Michi de 250 quilômetros, ele forçou demais durante uma longa descida após o quilômetro 150 e suas pernas simplesmente cederam. “Depois disso, mal consegui correr. Tudo o que pude fazer foi caminhar nos últimos 70 quilômetros. Levei muito tempo e precisei de uma enorme força de vontade para terminar aquela prova”, relembra. “Mas aprendi que, mesmo quando as coisas não saem como planejado, ainda posso persistir e me recusar a desistir. Não importa se é doloroso e lento.”
During the toughest moments of a race, when sleep deprivation compromises alertness and extreme tiredness urges the body to stop, Mikael resorts to a small trick. He thinks of his wife, Sari, and pictures her running by his side.
Nos momentos mais difíceis de uma corrida — quando a falta de sono compromete a concentração e o cansaço extremo faz o corpo pedir para parar — Mikael recorre a um pequeno truque. Ele pensa em sua esposa, Sari, e a imagina correndo ao seu lado. “Quando minha mente não está em um bom lugar, imagino que ela está comigo na prova. Converso com ela enquanto corro”, explica.

Espírito de equipe
Embora Sari não esteja fisicamente na trilha, sua presença nunca está distante. Juntos, eles já viajaram o mundo: Mikael acumulando quilômetros e mais quilômetros em corridas, enquanto Sari atua como o apoio indispensável que todo ultramaratonista precisa. Seja esperando na linha de chegada ou oferecendo ajuda ao longo do percurso, sua contribuição tem sido constante e essencial ao longo dos anos.
O apoio inabalável de Sari se torna mais visível nos dias de prova, mas também se estende aos longos e exaustivos períodos de treinamento que as antecedem. Essas sessões, que podem durar inúmeras horas e quilômetros, muitas vezes acabam consumindo o tempo do casal e colocam à prova até os relacionamentos mais fortes.
Enquanto Mikael se dedica intensamente à sua rotina de treinos, Sari precisa equilibrar seus próprios compromissos com as exigências de apoiar o marido em sua jornada esportiva. Enquanto ele testa seus limites físicos e mentais nas trilhas, ela assume o peso de administrar as tarefas da casa e manter o ritmo da vida cotidiana.
Quando os treinos se estendem por noites inteiras, esse apoio se torna indispensável. “Não há outro jeito”, reconhece Sari. “Quem quer ter sucesso nas ultramaratonas precisa de um parceiro que aceite esse estilo de vida. Isso exige confiança.”
Essa confiança permite que Mikael priorize os treinos sem culpa. “Às vezes posso ser egoísta”, ele admite. “Quando o treino é decisivo, preciso focar totalmente na corrida e no desempenho. Não posso estar na floresta pensando se a Sari está em casa cuidando das tarefas e do jantar. Preciso deixar esses pensamentos de lado para conseguir dar o meu máximo.”
Apesar dos desafios, a relação dos dois só se fortaleceu ao longo dos anos. “Os treinos do Mikael também me dão um tempo só meu”, confessa Sari. “Embora gostemos de fazer muitas coisas juntos, ter momentos individuais é igualmente importante.”
Ajudando os outros
Depois de dedicar décadas à ultramaratona, não é por acaso que Sari e Mikael sentem o desejo de compartilhar seu conhecimento e apoiar outras pessoas que buscam se destacar nas corridas de resistência — ou simplesmente encontrar mais equilíbrio na vida. Desde 2009, eles administram a Sakura Coaching, uma empresa de coaching pessoal que oferece orientação e suporte a quem deseja melhorar diferentes aspectos da vida, como carreira, atividade física e bem-estar geral.
Claro, o treinamento físico é parte essencial da preparação para as ultramaratonas. No entanto, no trabalho como treinador, Mikael dedica grande parte do tempo ao desenvolvimento da resiliência mental de seus atletas. Ele entende que as provas de ultradistância são extremamente exigentes — com percursos longos, terrenos implacáveis e privação de sono. Superar esses desafios requer uma força mental fora do comum. A dor é inevitável, e é por isso que ele conversa tanto com seus atletas sobre os aspectos psicológicos das ultras. “Procuro ajudar os corredores a desenvolver ferramentas mentais para enfrentar os momentos sombrios que inevitavelmente surgem durante as provas”, explica. “Digo a eles que esses momentos são apenas isso — momentos. Eles passam. Muitas vezes, esses períodos difíceis são apenas resultado de uma nutrição inadequada ou da falta de energia, então a solução costuma ser simples.”

Para Mikael, a visualização é uma técnica crucial para fortalecer a resistência mental. “Costumo visitar uma trilha e andar alguns metros, imaginando o que vai acontecer durante uma corrida”, explica. “Depois, caminho um pouco mais, visualizando outro momento da prova. Como vou me sentir? Que ações precisarei tomar naquele instante?”
Enquanto Mikael se concentra no treino e no desempenho, Sari atua como coach para pessoas que desejam enfrentar os desafios de alcançar uma vida equilibrada. “A maioria de nós passa tempo demais sentada diante de um computador, então incentivo as pessoas a se movimentarem e se manterem ativas”, diz ela. “Mover-se, especialmente ao ar livre, na floresta ou em um parque, nos acalma e ativa o cérebro de maneira diferente. Isso aumenta a criatividade e a inspiração, ajudando a encontrar soluções para diversos problemas.”
Todos podem ser ultramaratonistas
Ao contrário do que muitos imaginam, as ultramaratonas não são exclusivas de um grupo seleto. A crescente popularidade das provas de resistência trouxe novas formas de correr longas distâncias, mais acessíveis até mesmo para iniciantes. Um exemplo é o surgimento das Backyard Ultra, um formato de corrida de resistência criado por Gary “Lazarus Lake” Cantrell, um dos fundadores das lendárias Barkley Marathons.
Nessas provas, os participantes devem completar um percurso de 6,706 km (4,167 milhas) a cada hora, sempre começando uma nova volta quando o horário marca, até não conseguirem mais cumprir o tempo limite ou decidirem se retirar. O último a permanecer, completando o maior número de voltas, é declarado vencedor.
O formato das Backyard Ultra oferece uma porta de entrada ideal para quem quer experimentar corridas de longa distância. Ao contrário das ultramaratonas tradicionais, que geralmente apresentam distâncias intimidantes para iniciantes, essas provas oferecem mais flexibilidade e controle sobre a experiência de corrida. Em vez de se comprometer com uma distância fixa, os participantes podem escolher quanto tempo querem correr, tornando o evento mais acessível a diferentes tipos de corredores. Além disso, o percurso relativamente curto e repetido promove um ambiente de camaradagem e interação social, permitindo que os corredores se apoiem mutuamente e compartilhem conquistas.
Esse senso de comunidade foi um dos motivos que levou Mikael a criar uma Backyard Ultra na Finlândia. Desde 2019, ele e Sari organizam a Nuuksio Backyard Ultra, um evento anual que reúne ultramaratonistas experientes e novatos. Quer se desafiar? Na última edição da prova, o ultramaratonista finlandês Verneri Teppo estabeleceu um novo recorde da corrida (e da Finlândia) com 47 voltas — o equivalente a 314 km em dois dias de corrida.
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